quarta-feira, 20 de março de 2024

Atualização da apostila: 20 de março de 2024

Trago uma atualização da apostila "Introdução aos consoles de iluminação ETC Eos". E essa é realmente grande.

Além de trazer uma série de novos elementos técnicos, essa versão traz também uma série de mudanças na organização. Vamos a elas:

- Decidi desvincular a apostila da instituição SPET. Apesar de ter ustilizado o material no curso que ministrei na instituição, não houve qualquer ligação efetiva no seu desenvolvimento. Assim, resolvi torná-la independente tanto do TMSP quanto da SPET já que é um produto de desenvolviemnto pessoal;

- Daqui em diante pretendo colocar a data da última atualização  logo na capa de forma a ficar mais evidente em que versão do documento estamos;

- Não pensando mais em módulos, resolvi amalgamar o conteúdo de todo o curso da ETC em um material só. Assim, é possível encontrar desde materiais mais básicos e fundamentais até alguns conteúdos mais avançados. Essa adição ainda está longe de estar completa, mas acredito que já tenha conteúdo adicional o suficiente pra justificar uma publicação;

- Tenho feito um esforço de tentar desenvolver mais ideias e conceitos além de apresentar mais exemplos pra deixar claras as formas de utilização das funções e comandos;

- Diversos pedaços ainda estão somente no "Copia e Cola" dos outros materiais que eu tinha. Ainda existe um legado muito forte de explicações por fichamento bastante superficiais;

- Pra quem já conhece o material, sugiro ainda assim dar uma olhada porque muita coisa foi revista. A quem não conhece, sugiro não pular os capítulos iniciais. Eles fornecem uma série de explicações úteis. Sugestões construtivas são bem-vindas  nos comentários.

E, como sempre, sugiro estudarem e treinarem. A apostila existe para ser consultada e eu não estarei sempre disponível. Além disso, tem havido uma grande quantidade de alunos, alguns já formados, outros terminando curso, trazendo dúvidas básicas das primeiras aulas. Isso me deixa deveras preocupado.

Espero que esse material os ajude. Até a próxima atualização!

Por fim, o link pra download:
https://drive.google.com/file/d/1o29E6xHVW9rLLsc_f4RMn7RSdKMyOZwT/view?usp=sharing

sábado, 26 de agosto de 2023

Consoles ETC Express

Existe uma quantidade enorme de consoles no mercado. Quem trabalha como autônomo, transitando entre diferentes espaços, percebe isso com frequência. Hoje, a maioria dos espaços alterna principalmente entre consoles da Avolites (Pearl, Titan), MA (grandMA 2 e 3) e ETC (Element, Ion, Gio etc.) com algumas exceções de espaços com consoles que fogem dessas marcas principais.

No entanto, houve um período durante a década de 90 e início dos anos 2000 em que a ETC teve grande entrada no mercado brasileiro e internacional. Isso se deu principalmente com os consoles da linha ETC Express e suas muitas variações (Expression, Insight, Obsession etc.). Assim, é possível encontrar ainda muitos espaços pelo país que possuem esse equipamento funcional.

Console ETC Express

Ressalto que o sistema Express é anterior e completamente diferente do sistema Eos que serve aos novos consoles da ETC. São consoles diferentes com softwares distintos que não se comunicam diretamente embora sejam possíveis conversões e o sistema Express tenha contribuído com muitos padrões que hoje são utilizados pelo Eos.

Alguns detalhes rápidos que são importantes sobre esses consoles:

- O mecanismo para salvamento externo do arquivo do show é feito em disquete. Existem alguns poucos consoles que tiveram esse sistema convertido pra USB permitindo gravar em pendrives (ferramenta essencial a qualquer programador/operador de mesa hoje em dia). No entanto o mais comum é encontrar consoles com entrada pra disquete que, lembro, não são mais fabricados. É possível encontrar na internet tanto disquetes quanto leitores de disquete a venda;

- Tal qual o sistema Eos, existe software offline para treino/edição de arquivos de show no PC. Pode ser encontrado no site da empresa;

- Os consoles da linha Express eram vendidos em diversos tamanhos, havendo variação na quantidade de faders: 24/48, 48/96 (mais comuns) e 12/24, 72/144 e 125/250;

- Embora não tenham sido especificamente projetados para isso, é possível controlar aparelhos multiparâmetros em alguns consoles da linha Express com algum esforço. Alguns modelos como a Obsession e Expression 3 já têm encoders e sistemas um pouco mais preparados pra esse tipo de atividade;

Partindo disso, esse post tem o objetivo de compilar alguns materiais sobre esse sistema que, embora antigo, ainda está presente em nosso cotidiano.

PS: como dado de curiosidade pra quem estiver pesquisando, quando forem no site de determinado fabricante procurar produtos antigos que geralmente estão descontinuados, é comum encontrar o termo "Legacy Products" se referindo a esses equipamentos já fora de linha.

quarta-feira, 29 de março de 2023

As fases de um projeto luminotécnico

            Em 2020, com a pandemia, algumas equipes do TMSP desenvolveram projetos de ações remotas para se manterem ativas e relevantes. Foi nesse período que surgiu a base para o curso que hoje ministro na SPET. Porém, surgiu também uma iniciativa da equipe de Direção de Palco que desenvolveu vídeos didáticos tratando da relação entre seu setor e os outros do teatro. Assim, fui convidado a colaborar com o episódio que trata da iluminação. No vídeo, falo do processo de construção da luz de forma abrangente, passando por suas várias etapas. O texto abaixo é a versão completa do que foi usado no vídeo final que pode ser encontrado em:

https://www.youtube.com/watch?v=qXZdhOG9X8k&list=PLZZv6IKSNjRQjLwK0zyKV6F66yhQVsZYL&index=2&t=25s&ab_channel=TheatroMunicipaldeS%C3%A3oPaulo

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A iluminação cênica, assim como os outros elementos da cena como sonorização, cenografia, figurino e outros, tem o papel fundamental de ajudar a contar uma história. Pra além de seu simples papel de revelar os objetos, a luz de uma cena também carrega uma mensagem e mesmo a sua função de revelação ou não pode carregar um universo inteiro de intenções. É o que chamamos de dramaturgia da luz. Na construção desse projeto de iluminação, é possível reconhecer algumas etapas.

            Num primeiro momento, temos a pré-produção, momento em que é feito o contato com a obra e o iluminador, geralmente convidado, o artista criador. Com ele, discutiremos seu projeto, analisando a viabilidade técnica de suas ideias e o que é necessário à execução. Essas necessidades podem ser de ordem material como objetos que devem ser comprados, locados ou até mesmo fabricados. Dentre os comprados, um elemento comum são os filtros, mais conhecidos como gels ou gelatinas, que podemos dizer que são folhas coloridas de plástico resistente a calor que permitem mudar a cor dos faixos de luz. Por serem materiais perecíveis, devem ser compradas novas folhas ou rolos a cada espetáculo. Entre os equipamentos locados, geralmente temos os aparelhos eletrônicos ou motorizados que têm a vantagem de poderem ter algumas de suas características modificadas cena a cena.

Dentre as necessidades de ordem logística, podemos citar a disponibilidade de tempo e equipe pra situações específicas como manipulação de canhão seguidor e contrarregragem de objetos luminotécnicos ao longo do espetáculo.

            Estabelecidos os meios materiais e logísticos, é hora de começar a execução com a montagem. Os aparelhos, em teatro chamados de refletores, são fixados nos lugares indicados pelo iluminador através do mapa de luz. Também chamado de mapa de iluminação ou planta de iluminação, recebe esse nome por seu funcionamento análogo ao de uma planta arquitetural: define o espaço e os objetos que o preenchem, indicando onde serão alocados os vários aparelhos, estabelecendo distâncias e medidas para que possa ocorrer a montagem.

Uma vez fixados, todos os aparelhos são verificados quanto ao funcionamento e segurança de operação.

            Pendurados os refletores, chega o momento de fazer os devidos ajustes como angulação, abertura e qualidade do faixo de luz num processo conhecido como afinação. Normalmente no alto de grandes escadas, nossos técnicos lidam principalmente com os refletores convencionais, peças grandes e pesadas de metal que geralmente possuem lâmpadas halógenas de alta potência e, por isso mesmo, consomem muita energia e esquentam bastante.

            Tudo pronto no palco, é hora de começar a pensar em como isso tudo é combinado para dar vida à obra e entramos na fase da programação. O iluminador, junto ao programador, começa a compor suas cenas num equipamento comumente conhecido como “mesa de luz” ou console, uma espécie de computador de função especializada essencial para trabalhar de forma precisa e organizada com a grande quantidade de aparelhos que temos de gerenciar. Através desse equipamento, conseguimos regular as várias intensidades dos aparelhos no palco além de outras características em aparelhos motorizados que são controlados remotamente. Durante esse período, nos mudamos para o centro da plateia de forma que o iluminador possa ter uma visão mais próxima daquela que o público terá e é aqui também que as várias deixas dos movimentos de luz são passadas para a direção de palco de forma que esteja pronta para o comando do espetáculo.

Todas as cenas e movimentos devidamente gravados no console, voltamos à nossa base na cabine de luz para a operação. Antes de cada apresentação, verificamos novamente todo o equipamento. Protocolos de abertura da casa são executados sob a regência da direção de palco.

E então... a luz se apaga.

A cortina é aberta.

Cena a cena, o diretor de palco vai chamando as deixas, aqui chamadas de cues. Cada uma tem um momento específico, seja junto a um movimento no palco, seja numa nota musical. O trabalho do operador é simples, em parte. Com o aperto de um botão, transita de uma cena a outra. No entanto, a presença de técnico especializado é fundamental uma vez que tratamos de teatro, obra viva, presencial, mutável de um dia pro outro. Equipamentos podem falhar. Artistas podem errar, acelerar ou ralentar. Uma infinidade de surpresas pode ocorrer no decorrer de um espetáculo que exigem o conhecimento técnico de um operador de luz profissional.

            Durante todo o andamento do projeto, mais intensamente nessa fase quase final, há uma preocupação em guardar todo material referente ao espetáculo e preparar, da melhor forma possível, sua documentação. A ideia com isso é não só ter um material que sirva de referência técnica para possíveis soluções de problemas, mas também possibilitar uma remontagem ideal da obra. Mapas, arquivos, desenhos, são todos atualizados com eventuais entradas ou cortes de materiais e mudanças de posicionamento. Fotografias são tiradas dos objetos para que, além das referências numéricas do console, tenham-se referências visuais. Material físico e virtual é arquivado e organizado de modo que a obra possa existir de forma autônoma, independente dos indivíduos originais que participaram de seu projeto.

            E quando começamos a nos acostumar a essa nova história, quando ela já faz parte de nosso cotidiano, chega o irrefutável momento a que estão sujeitos todos os profissionais das artes do palco. É chegado o fim da temporada e o início da fase de desmontagem. A luz cênica cede lugar à luz de serviço e um exército de técnicos trabalha soltando pregos e parafusos, desmontando painéis, embalando peças frágeis, verificando a acomodação desses itens, muitos dos quais sairão do teatro pra um galpão onde ficarão guardados até que tenham nova utilidade. Desmontamos, empacotamos e guardamos. E assim o palco volta à condição de grande espaço vazio onde futuros artistas poderão novamente criar.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Sobre ensinar iluminação cênica

 No final do ano passado, recebi um convite inusitado: Guilherme Bonfanti, coordenador do curso de iluminação da SP Escola de Teatro e um dos meus primeiros mestres em iluminação quando cheguei em São Paulo, me chamava para dar aulas na escola. Não quaisquer aulas, mas do tópico em que me especializei: consoles de iluminação, mais especificamente da linha ETC Eos.

Já dei aulas antes, mas sempre informalmente e para um público menor e em outra escala. Era um desafio, mas um que queria muito assumir. Descobri que gosto de lecionar, principalmente se for sobre um assunto de que gosto tanto. É verdade, eu me estresso, me canso, me frustro com meus fracassos mas também sinto um prazer enorme quando vejo meus alunos fazendo uso daquilo que tento lhes ensinar. É um orgulho e um privilégio. Aquela máxima de que, quando lecionamos, devemos tentar ser o professor que gostaríamos de ter tido finalmente fez sentido pra mim.

Percebo também essa experiência toda como um exercício importante em minha área. Primeiro, tenho que desconstruir e decupar meu conhecimento técnico de forma a encontrar uma linguagem que não sirva somente ao uso diário de meu ofício, mas que esse conhecimento se torne acessível aos meus alunos, na maior parte das vezes ainda leigos não só em consoles, mas na linguagem técnico-teatral como um todo.

Segundo, o exercício de estudar os tópicos que devo ensinar, o que me faz ter de rever uma série de assuntos e não deixar que esse conhecimento se acomode em mim. Numa perspectiva profissional, isso é bastante interessante porque me obriga a revisitar conceitos, lembrar de ferramentas que não costumo utilizar mas que podem ser úteis em situações específicas e de forma geral continuar a pensar sobre o que sei.

Terceiro, o exercício do diálogo e da troca. Porque sim, o professor não poucas vezes aprende mais do que os alunos durante o processo. Eles me trazem questões sobre as quais nunca pensei. Surgem problemas que nunca enfrentei. E assim, também me aprimoro.

Um ano se passou nessa experiência do professorado. Nem tudo foi fácil, mas os resultados têm se mostrado positivos. Aprendizes que afirmam estar aprendendo quando não conseguiram por outros meios. Aprendizes que dizem que sentem falta de mais aulas minhas. Comentários de como eles estão conseguindo se virar nas atividades que têm surgido dentro e fora da SPET. Saber que participo do processo de formação de técnicos que logo serão meus colegas. E isso é a maior recompensa que posso ter.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Sobre programação e programadores

Ziembinski chegava ao Brasil na década de 40 com ideias e concepções que dariam início ao moderno teatro brasileiro. Para nós, seria tudo uma grande novidade: a figura do diretor no lugar do ensaiador, períodos mais longos de ensaios, espacialidades mais rebuscadas tanto pela cenografia quanto pela iluminação... Ziembinski nos trouxe tendências do que já estava sendo feito na Europa e até mesmo nos Estados Unidos há algum tempo.

A tendência a esse nosso atraso tupiniquim  fica bem exemplificada pela história acima e, embora muito menor, permanece uma realidade ainda nos dias de hoje. A figura do iluminador começa a ser levada realmente a sério em nosso país apenas em meados da década de 80, em grande parte com a ajuda de Jorginho de Carvalho e os nomes que despontavam nesse período como Maneco Quinderé e Aurélio de Simoni. Daí para uma consolidação das diferentes áreas de atuação dentro da iluminação cênica, ainda foi necessário percorrer um longo caminho.

E os equipamentos importados começaram a chegar, assim como as produções musicais da Broadway que passaram a ser importadas com frequência cada vez maior. A tecnologia se desenvolveu e as mesas digitais não só cresceram em popularidade como também em sofisticação. O profissional de outrora agora precisava entender uma linguagem um pouco mais próxima da linguagem informática. Assim, surgia a figura do programador na iluminação: aquele profissional especializado na mesa de controle da luz que geralmente aparecia entre a montagem e a estreia do espetáculo, apenas preparando a mesa para que outros assumam depois. É bem verdade que, nesses moldes, ainda não é tão comum assim essa figura, ao menos aqui no Brasil. Não poucas vezes, o programador será também o assistente do iluminador e operador do espetáculo. Independente disso, a função cresce em importância.

Dado o quadro apresentado e tomando como livre e vaga inspiração as Leis da Biblioteconomia estabelecidas por Ranganathan, proponho três diretrizes a serem consideradas no exercício da função, em ordem de prioridade:

1) O efeito do iluminador deve ser alcançado
No fim do dia, o que importa é o que se vê sobre o palco. Alguns iluminadores têm um conhecimento técnico mais desenvolvido, outros menos. Alguns te pedirão pra executar determinada tarefa de certo jeito. Outros estão te contratando justamente porque não querem ter que pensar nisso. Nesse caso, esse profissional só quer que você execute o efeito final que ele te pediu. O "como" realizar isso fica a critério do programador. Mas nunca perder de vista que o pedido dele é o foco do trabalho.

2) Poupe o tempo do iluminador
Sabemos que, infelizmente, a luz é um dos últimos elementos a entrar em cena. Os atores ensaiam antes, a trilha vai sendo testada. O cenário é então montado para que os atores "reconheçam o espaço". Só então vem a luz. Portanto, o tempo de programação não costuma ser muito amplo e isso se considerarmos que tudo correrá bem, sem problemas com equipamentos defeituosos ou mudanças surpreendentes de encenações e cenário. Nesse sentido, todo tempo que puder ser poupado é válido. Inclusive, muitas vezes ganha-se não apenas em tempo, mas também na paciência do iluminador. Pensemos que, muitas vezes, ele tem que lidar com um diretor estressado que lhe pede uma série de absurdos e outros problemas. Tudo que puder ser feito para atendê-lo o mais rápido possível está valendo. Portanto, aquele atalho que faz com que você tecle 3 vezes no lugar de 5, aquele efeito que você pode criar pra automatizar determinada função ou aquele preparo que você faz na mesa antes de sentar pra começar a gravar podem parecer que vão te render apenas alguns poucos segundos mas, pense que isso ao longo de horas e dias pode sim fazer diferença.

3) A luz não é sua
Como colocado anteriormente, a função do programador muitas vezes é exercida também pelo operador, assistente ou até iluminador. No entanto, isso não é a regra. Muitas vezes você programa o espetáculo e outra pessoa irá operá-lo ou, talvez, manipular o arquivo. Pode haver também o caso em que se faz a programação de um espetáculo a quatro ou mais mãos. Nesse caso, é necessário que as partes envolvidas estejam minimamente inteiradas do que se passa e como certos efeitos foram gerados na mesa. Do contrário, caso haja qualquer problema ou o diretor resolva inventar alguma mudança, o outro não saberá ou demorará mais para resolver. Nesse sentido, é importante ponderar sobre quais mecanismos da mesa utilizar para atingir certos efeitos. "Será que fulano saberá lidar com isso?" é a pergunta que se deve fazer. Com isso, não quero dizer para se descartar qualquer mecanismo mais complexo por medo de que o outro não entenda. Acredito apenas que se deva levar em consideração quando de uma tomada de decisão. Deixar claro o que foi feito, estabelecer comunicação (e documentação!). Por fim, dada a oportunidade, seja generoso e ensine algo novo ao teu colega.

Essas são as 3 diretrizes que acredito serem essenciais para uma boa relação de programação na ordem de prioridade que acredito que devem ser levadas. Porém, ressalto o uso de diretrizes no lugar de regras. Trabalhamos com arte e com projetos. Cada dia será diferente do outro e lidaremos com os mais diversos indivíduos e situações. Utilizando-se de bom senso, claro que as prioridades podem (e devem!) ser revistas e adaptadas às necessidades particulares. No final, o que importa é que todos voltem para casa satisfeitos com o bom trabalho realizado.

domingo, 16 de agosto de 2015

Autonomia em tempos modernos

Situação: você acaba de ficar alguns meses em cartaz cuidando da luz de um espetáculo. Já conhece de todas as formas o equipamento e o espaço onde a peça está. Chegou a hora de viajar. Serão alguns finais de semana, cada um numa cidade e, consequentemente, num teatro diferente. Não haverá muito tempo pra montagem e você terá que dividir palco com cenografia. Quando você se depara com a mesa, algo que você nunca viu e pior: aquele disco/pendrive em que você tinha o show salvo de nada adianta nessa nova mesa estranha. Um bom tempo será perdido na reprogramação.

A situação descrita acima pode soar familiar pra muitos. Esse tipo de adversidade, é claro, nos faz procurar soluções práticas, nos tornando profissionais mais agéis. Mas há situações em que o tempo simplesmente não é suficiente e é necessário ter cartas na manga. Isso aconteceu comigo na última cidade da turnê de Hécuba. E graças a soluções modernas que existem hoje em dia, pude resolver a questão. Falo de ter um sistema de controle de luz próprio.

Cada vez mais, empresas lançam no mercado soluções para espetáculos de pequeno e médio porte que o técnico/operador/iluminador possa levar consigo. Assim, o profissional terá consigo uma ferramenta familiar e, possivelmente, o seu espetáculo já programado, bastando fazer pequenos ajustes e o patch. Basicamente, o espetáculo será rodado a partir de um computador ou tablet (talvez até um telefone).  Apresento a seguir alguns dispositivos de que tenho conhecimento.

Interface DMX

Essa talvez seja a peça fundamental de seu sistema. Afinal, como você fará pra ligar seu dispositivo ao rack e/ou aparelhos multiparâmetros? São esses os aparelhos responsáveis por fazer essa comunição. Eles variam em marca, modelo, funcionalidades e até mesmo em conexões mas todos têm o propósito comum de fazer seu PC/Tablet falar com os refletores. Vale ressaltar que só vi esse tipo de aparelho voltado para sistemas digitais uma vez que tratamos de protocolo DMX.

Para exemplificar, aconselho ver a marca Lumikit, vendida aqui no Brasil por um preço bastante acessível. Falo dela por conhecimento de causa, uma vez que possuo a interface de um universo e que já utilizei algumas vezes.




Na prática, é uma caixinha com uma entrada ethernet (padrão de rede de computadores) e uma entrada XLR de 3 pinos (padrão difundido de conexão para envio de sinal DMX) que faz a conversão de um pra outro. Pensando na entrada ethernet, podemos deduzir que qualquer coisa que possa se ligar a uma rede de compuatdores (atribuindo-se um endereço IP) poderá se ligar à interface. Assim, computadores ou tablets e telefones (conectando-se à interface por meio de adaptadores ou roteadores), são capazes de enviar sinal de controle para os aparelhos de seu espetáculo.

O Lumikit, assim como outras interfaces, é vendido de acordo com a quantidade de universos e algumas outras funções periféricas. Contudo, o princípio básico é o mesmo pra todos: por meio de um protocolo intermediário chamado ArtNet, faz essa "tradução" de um meio para outro. Mas o que seria um protocolo, afinal? Não sou nenhum técnico em informática ou eletrônica, mas tentarei explicar segundo meu entendimento: trata-se de uma série de padrões de comunicação e linguagem que estabelecem a forma como dados serão enviados através de um meio. Isso não diz respeito, necessariamente, ao meio físico em que os dados trafegam uma vez que o mesmo cabo de sinal que usamos pro protocolo DMX é usado também pelo pessoal de áudio pra trafegar os seus sinais. Outro exemplo disso seria o fato de muitas mesas de luz já utilizarem hoje entradas ethernet diretamente no lugar das entradas XLR.

O software

De posse de uma interface que conecte seu dispositivo controlador ao sistema da casa, chegou a hora de escolher o software que fará esse controle. Aqui, cabe um cuidado: muitos softwares que existem hoje no mercado, a maioria gratuitos, funcionam com alguns tipos de hardware específicos. Portanto, ou procura-se um conjunto específico ou compra-se uma interface genérica que "converse" em ArtNet para que se possa usar qualquer software que se utilize da referida linguagem. É oferecido um software desse tipo no site da Lumikit. Tenho ressalvas quanto à interface do programa e sua operabilidade, mas o fato é que ele funciona. No campo dos dispositivos móveis, já foram criados também alguns aplicativos, uns mais simples, outro mais completos.

Embora caro, recomendaria o Luminair para iOS. Ainda é um dos aplicativos com melhor interface e mais completos que encontrei. Tem uma série de funcionalidades que faltam, principalmente pra quem pretende rodar um espetáculo utilizando cues mas é suficiente para rodar espetáculos simples.

Já no Android, indicaria o Art-Net Controller. Acredito que a interface mereça melhorias, mas a funcionalidade é interessante. Para quem quiser testar, tem uma versão gratuita porém limitada.

As configurações de cada dispositivo e softwares são particulares e, por isso, não me alongarei no assunto. Lembrando que o uso de aplicativos em tablets ou celulares requer o uso de um roteador. Nesse caso, aconselho a colocação do roteador o mais próximo possível ao aparelho rodando o aplicativo e que se use o aparelho ligado à fonte na tomada. O protocolo DMX é contínuo e irá ocupar muita banda da conexão. Esse envio ininterrupto de dados exigirá bastante da bateria. Por fim, é recomendável utilizar uma conexão dedicada. É bom manter sempre em mente a ideia de evitar qualquer coisa que possa interromper ou deturpar a conexão de seu sistema afinal, essa falha pode gerar ruídos no resultado final da luz no palco.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

The book is on the... stage?

Esse blog nasceu de uma viagem. Foi em 2011 quando fui a Madison para o evento da ETC. À época, tinha grande interesse em entender, principalmente, as formas e relações de trabalho no campo da luz praticadas lá fora. Tive que estudar um bocado pois não bastava simplesmente falar inglês, agora precisava de um inglês técnico. Seria necessário entender ao menos os principais termos teatrais se eu quisesse ter alguma chance de me comunicar bem com as pessoas de lá. Assim, iniciei um processo de pesquisa de terminologias, de tradução mesmo. Mas devo admitir que foi um pouco complicado uma vez que não encontrei essas informações centralizadas em lugar algum. Tive que buscar diversos sites, ler muita coisa e deduzir um bocado de outras. O pequeno glossário a seguir é uma tentativa de facilitar outros que, porventura, passem pela mesma situação.

Apron -> Litearalmente, é mais usado como avental. Porém, existe um outro sentido ocasionalmente usado de elemento apêndice, anexo e é nesse sentido que se encaixa o seu uso teatral. O apron é aquilo a que normalmente nos referimos como proscênio, ou seja, aquela região que se estende pra além da boca de cena em direção à plateia. Quando temos um palco em que essa região é grande e chega a ficar cercada de público pelos três lados, ele pode ser chamado de apron stage ou thrust stage.


Esquema de palco à italiana
Fonte: Wikipedia - Box set (theatre) 

Backdrop -> Rotunda, grande pano preto colocado ao fundo do palco para fechamento da caixa preta.

Backstage -> Toda a área adjacente ao palco por onde transita a equipe do espetáculo, incluindo aí não só as coxias mas também camarins, copa etc.


Beam bender -> Aparato espelhado que se encaixa à entrada de porta-gel de um aparelho para permitir a reflexão da luz e gerar novas possibilidades de ângulos de luz.

Boom -> estrutura verticais para se fixar refletores além das varas, muitas vezes utilizados para luz lateral.

Um Beam Bender em um elipso preso a um Boom



Booth -> Cabine.

Cabine de tradução
Fonte: Wikipedia

Break a leg -> Expressão equivalente ao nosso merda, traduz-se literalmente como "quebre uma perna".

Busking -> Expressão usada quando se programa/opera determinado show sem roteiro pré-definido ou com pouco ensaio. No Brasil, muitas vezes refere-se a essa modalidade como "operar na mão", geralmente deixando os efeitos separados e acessíveis por meio de faders e outras formas de comando fáceis. Também pode ser referido como punting. Como curiosidade, fora do contexto da iluminação cênica, a expressão busking refere-se a apresentações artísticas gratuitas em lugares públicos no modelo como muitos musicistas e artistas circenses trabalham. Referência: http://www.onstagelighting.co.uk/busking-stage-lighting-course/

Clamp -> A garra de um refletor que serve para fixá-lo a estruturas como varas ou torres laterais.

Uma garra tipo C

Console -> Mesa de luz. O certo seria dizer Lighting Console uma vez que temos também consoles de som, mas reduzimos a Console por partir do pressuposto que estamos tratando do âmbito da luz. Em alguns raros casos, podemos ouvir Lighting Board, mais próximo de uma tradução literal.

   
Console ETC ION XE


Cyclorama -> Ciclorama, tela branca normalmente colocada ao fundo do palco e muito usada para criação de efeitos de luz coloridos. Muitas vezes referem-se a ele simplesmente como Cyclo  ou Cyc. O ciclorama tem esse nome porque, nos teatros antigos de palco grande, a tela de fato tinha um formato semicircular.

Device -> Dispositivo.

Dressing Room -> Camarim.

Electrician -> Técnico de iluminação. O chefe da equipe de iluminação é denominado Master Electrician. É curioso que, lá fora eles sejam reconhecidos por esse termo. Aqui, tecnicamente, esses profissionais também são reconhecidos como eletricistas pelo Sindicato, constando em suas carteiras de trabalho o DRT como Eletricista de Espetáculos.

ERS -> Elipsoidal Reflector Spotlight. Um dos muitos nomes que recebem os refletores elipsoidais. Muitas vezes são chamados também de Profile Spotlight ou simplesmente de Profile.


Refletor elipsoidal ETC Source 4 de grau fixo (não especificado)

Fonte: ETC


Filter -> Filtro. Usado para designar as gelatinas que usamos nos refletores. Também pode ser usada a palavra gel, mas filter geralmente soa mais técnico e formal.


Filtros cortados e encaixados em portas-gel

Fixture -> Refletor. Contudo, refere-se não somente  refletores cênicos, mas pode ser usado em relação a qualquer tipo de aparato criado com o intuito de emissão de luz como arandelas e lustres.

Focus, to -> Falso cognato, esse termo é o verbo to focus que refere-se ao ato de afinar a luz.

FOH -> Expressão normalmente encontrada em mapas  de produções em grandes teatros, é uma sigla que significa Front Of House, referindo-se a posições que encontram-se fora do palco, normalmente nossas "sancas" ou quaisquer espaços que façam uma luz frontal em relação ao palco.

Ground -> Literalmente, chão. No âmbito da iluminação, usado para designar o terra na fiação elétrica.

Lift -> Elevador ou qualquer dispositivo que faça as vezes de. Quando verbo, to lift, significa levantar algo (levantar a si mesmo é get up)

Lighting -> Iluminação. Atentar para a sutil diferença entre LightING e LightNING. O segundo significa relâmpago.

Fonte: desconhecida

Off stage -> Qualquer área fora do espaço de ação cênica.

On stage -> Área do palco vísivel ao público onde ocorre a ação cêncica.


Pipe -> Numa tradução literal, refere-se a qualquer tipo de tubo ou cano. No âmbito da iluminação, trata-se das varas onde são pendurados os elementos do espetáculo. É muito comum ver em mapas de luz a expressão LX Pipe ou LX Bar para referir-se especificamente às varas destinadas a material de iluminação.

Pit -> Fosso. Muito utilizado na expressão orchestra pit, fosso da orquestra

Plot -> Mapa de luz. Normalmente referido como Lighting Plot ou Light Plot.

Power -> Literalmente, poder. Na elétrica, refere-se à quantidade de trabalho sendo executada ou potência medida em  Watts.

Programmer -> Programador. É interessante notar a presença forte desse profissional no âmbito do grande teatro norteamericano. Lá, é possível encontrar indivíduos que vivem desse trabalho enquanto aqui no Brasil ainda não seja dada a devida atenção a tal função. Especializam-se no controle de consoles de luz e trabalham junto ao Iluminador para programar todo o espetáculo da forma mais eficiente possível. Normalmente afastam-se do projeto a partir da estréia.

Prop -> Adereço.



Mesa de adereços
Fonte: Broadway.com

Proscenium -> Cuidado com esse falso cognato. Essa palavra não tem o mesmo sentido de nosso proscênio (ver apron). Em inglês, essa palavra assume a forma de nossa boca de cena, ou seja, a estrutura que moldura o quadro do palco.

Punting -> Ver Busking.

Rehearsal -> Ensaio.

Run -> Tempo de duração em que um espetáculo está sendo produzido. Ex.: (...) "this small mirror spot enjoyed a 30-year production run (...)" poderia ser traduzido aproximadamente como "esse pequeno spot espelhado durou uma produção de 30 anos".

Stage -> Palco.

Stagehand -> Contrarregra.

Stand -> Suporte. Podem ser de vários tipos. Music Stand, por exemplo, seria uma estante de partitura. Light Stand podem se referir a suportes a aparelhos luminotécnicos.

Strike -> Desmontagem de um espetáculo após o término da temporada.

Trapdoor -> Termo geral usado pra definir alçapões. No âmbito teatral, refere-se a quarteladas ou outros mecanismos que permitam abertura para a parte inferior ao palco por onde possam subir peças de cenário, equipamentos e o que mais for necessário em cena.


Fonte: Globe Theatre Pinterest

Venue ->Numa tradução literal, "local". No âmbito teatral, refere-se ao que normalmente denominamos casa ou espaço. É o local onde se dará o evento ou espetáculo.

Wings -> Coxias. Assim como definimos "Coxia esquerda" e "Coxia direita", também diz-se Left Wing e Right Wing.

Wrench -> Chave num sentido geral de ferramenta. A chave inglesa que utilizamos bastante para fixar refletores pode ser chamada por alguns nomes como adjustable wrench (EUA) ou adjustable spanner (Reino Unido). Nos EUA, é conhecida também como crescent wrench devido a uma fabricante tradicional e famosa de ferramentas chamada Crescent.

Yoke -> Alça de um refletor normalmente presa à sua lateral.

Partes de um elipsooidal

Ao longo do tempo, pretendo adicionar mais termos com os quais me depare. Fiquem a vontade pra sugerir ou corrigir outros.