E vieram as próximas. Escrevo agora de meu quarto de hotel em São José do Rio Preto onde cheguei há algumas horas. Acordo amanhã cedo pra ir ao Teatro Municipal de SJRP fazer a montagem pra apresentações no sábado e no domingo.
Até agora, passamos pelos seguintes teatros:
Teatro Alterosa, Belo Horizonte;
Teatro Santa Isabel, Recife;
Teatro Municipal de São José dos Campos;
Teatro Coliseu, Santos;
Teatro Guaíra, Curitiba;
Teatro Municipal de Santo André;
Foram muitas experiências bacanas, outras nem tanto, mas certamente um aprendizado. Tentarei fazer rápidos comentários sobre cada um dos lugares.
Teatro Alterosa -> Equipe eficiente, relação de materiais razoável. A mesa é uma ETC Express 24/48 e possuem um equipamento de áudio mínimo. Apenas um dos funcionários chegou a me incomodar um dia porque haviam uns dois ou três refletores que quis reafinar no dia seguinte e o indivíduo ficou reclamando por isso.
Teatro Santa Isabel -> Feliz surpresa, fui esperando algo bem pior do que encontrei por lá. Tive um boa equipe à minha disposição e uma relação boa de materiais. A mesa era uma ETC Ion, fato que adorei. O único problema que tive foi em relação à escada que eles utilizam pra afinação. Grande demais, com rodinhas e travas laterais que seguram as pernas na posição, a escada é totalmente segura, mas completamente impraticável pra passagem por dentro de cenários. Além disso, foi meu primeiro desafio em um teatro do tipo "ferradura".
Teatro Municipal de São José dos Campos -> Sem dúvida, a ovelha negra dessa lista. Esse foi o teatro em que, com certeza, me deparei com a maior quantidade e os piores problemas. Com apenas dois técnicos, um de som e outro cenotécnico, o teatro não possui alguém responsável pela luz. As varas são travadas com cadeados e você precisa chamar o cenotécnico pra poder movê-las. E quando você mais precisa dele (lembrando que ele passa o resto do dia sentado nas cadeiras da plateia dormindo ou fazendo coisa alguma), onde ele está? Certamente não onde você gostaria que ele estivesse. Além disso, o equipamento, pela falta de um técnico que cuide, está em péssimo estado de conservação e faltando itens simples (eles têm muitos PCs, mas nenhum barndoor, por exemplo). Como se os problemas do teatro não bastassem, pegamos um péssimo produtor local que contratou apenas um cara pra me ajudar na montagem. Enfim, um lugar pra não querer voltar.
Teatro Coliseu -> Aqui, o problema é notado logo na chegada: o teatro não possui qualquer equipamento de iluminação. Isso mesmo, nada. Nenhum refletor, nenhuma mesa, nenhum rack. Apenas varas onde pendurar o equipamento. Isso se deve a um acidente que aconteceu quando de uma reforma anos atrás em que o engenheiro responsável pela instalação do sistema de luz fez algum erro e, no primeiro uso, todo o sistema queimou. Bonito, né? Resultado: tivemos que locar tudo, de refletores a rack e cabos. A empresa escolhida foi a Studio A, natural de Santos e acostumada a fazer trabalhos naquele teatro. No geral, tudo correu relativamente bem, os caras que encabeçavam a equipe foram super prestativos. Tivemos um problema momentos antes da primeira apresentação em que simplesmente um rack inteiro parou. O bom é que os caras da empresa, já conhecendo o material que têm, trouxeram racks sobressalentes.
Teatro Guaíra -> Fomos pelo Festival de Curitiba e tudo o que posso dizer é: UAU! No dia em que chegamos, haveria ainda um espetáculo acontecendo à noite e montaríamos de madrugada pra apresentarmos no dia seguinte. Pensei comigo, vai dar cagada! Mas a reputação da equipe do Guaíra é antiga e uma das melhores possível. E pelo que pude atestar, fazem jus. Tinha um equipe de umas cinco pessoas à minha disposição pelo que me lembro e os caras são muito rápidos e muito bons. Chega um momento em que acontece uma certa pressão, com cada um deles te perguntando coisas e você tendo que responder e dar atenção a cada um. Mas isso faz parte do que é trabalhar com esses caras. O teatro é incrível, absolutamente gigantesco e todo material que pedimos, o festival concedeu. A mesa que operei foi uma ETC Insight, que até então nem sabia que existia. É um modelo bem parecido com a Expression 3. Foi uma experiência muito boa.
Continuo a relação dos teatros num próximo post. Agora preciso dormir que amanhã o trabalho será puxado.
Câmbio, B.O.
Espaço dedicado às considerações, análises e vivências do fazer luz e todos os seus desdobramentos.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
segunda-feira, 12 de março de 2012
Hécuba
Percebo hoje que recaí em meu velho problema: incapaz de lidar com processos de longo prazo, tenho dificuldades em apresentar coisas simples, sentindo sempre a necessidade de oferecer algo dito "completo". Daí meu extenso afastamento desse blog.
Desde o "Crônica", tanta coisa aconteceu: balés israelenses e norte americanos, visita guiada pelo teatro municipal, contrarregragem pra Cia. dos Atores, iluminação de peça evangélica no Festival de Teatro de Angra etc. Foi assim meu segundo semestre, profissionalmente bastante frutífero.
Após a parceria que deu tão certo na "Crônica", fui chamado pra participar do trabalho seguinte do Gabriel Villela: a tragédia grega "Hécuba". Dessa vez, diferente do que aconteceu no trabalho anterior, tive a chance de participar do processo de criação junto à Miló Martins. Trabalhamos durante umas duas semanas no teatro Vivo, no Morumbi. Pudemos acompanhar o processo final de arremate da encenação.
Tivemos complicações durante o processo (como não poderia deixar de ser). Primeiro, o drama dos gobos, que, encomendados na Gobos do Brasil, passaram por um processo extremamente burocrático para que eu os recebesse. Mas nosso maior inimigo foi mesmo o próprio espaço. O teatro Vivo não oferece condições técnicas muito favoráveis. Com um pé direito baixo, há uma distância enorme entre a vara de proscênio e a primeira vara de dentro do palco. O equipamento é bastante limitado, sendo composto por alguns elipsoidais, algumas PAR (110V por acaso, obrigando o uso de séries), pouquíssimos fresnéis e PCs e alguns setlights.
A vara de proscênio não desce e as varas de dentro do palco são manuais por contrapeso. Todas as varas são paraleladas, gerando muitas confusões se não estiver atento à plugagem. Não há varas laterais, sendo usados, improvisadamente, alguns canos que passam na parte inferior da passarela técnica. A primeira medida da Miló foi alugar quase 80% do material utilizado na peça. Baseou boa parte de sua luz em fresnéis (utilizamos mais de 40) e, pensando no pouco espaço oferecido, Source Four PAR.
Houve um certo conflito sobre qual seria a cara dessa luz. Normalmente, pensamos em tragédias como obras soturnas e escuras, trazendo o peso da obra para a estética do espetáculo. Considerando que o peso da obra está em seu próprio caráter trágico e sabendo que o Gabriel gosta de muita luz e pouca sombra em seus atores (Miló já havia trabalhado com ele como assistente do Guilherme Bonfanti anos antes), investimos numa geral bem feita e fria, sendo usado o corretivo L201. Isso, para minha surpresa, ressaltou bastante o desenho do cenário e favoreceu o figurino colorido dos atores. Usamos poucas cores que surgem na forma do L354 e L166 e situações bem específicas. O console de luz utilizado foi uma ETC Express 24/48, onde produzimos um total de 42 cenas operadas em Cue.
Por fim, um dos maiores problemas mesmo que tivemos nesse trabalho, além do espaço físico, foi a relação com o pessoal técnico/administrativo do espaço. Composto por um pessoal, a meu ver, desqualificado e acomodado (com "síndrome de funcionário público"), tivemos sérios problemas ao longo de vários momentos da temporada.
Assim, ficamos de novembro ao início de fevereiro nesse teatro onde, apesar do difícil acesso, ingresso caro, falta de infraestrutura e um texto de tragédia grega que normalmente não é lá muito popular, tivemos uma temporada razoavelmente boa. Uma das coisas que me moveu a escrever essa postagem de hoje é o fato de que terminei hoje a primeira parte da turnê deste mesmo trabalho. Hécuba viaja agora por várias cidades e fizemos hoje nossa terceira e última apresentação no Teatro Alterosa em Belo Horizonte. Semana que vem, Recife (e quem acompanha esse blog sabe que tenho lembranças desse lugar...). E que venham os próximos.
Ficha Técnica
Elenco: Walderez de Barros, Flávio Tolezani, Fernando Neves, Leo Diniz, Luisa Renaux, Luiz Araújo, Rogério Romera, Nábia Vilela e Marcelo Boffat
Direção, Adaptação e Figurinos: Gabriel Villela
Texto: Eurípedes
Tradução: Mário da Gama Kury
Assistência de direção: César Augusto e Ivan Andrade
Cenografia: Márcio Vinícius
Adereços: Shicó do Mamulengo
Desenho de luz: Miló Martins
Preparação vocal: Babaya
Antropologia da voz: Francesca Della Monica
Direção musical e arranjos vocais: Ernani Maletta
Preparação corporal: Ricardo Rizzo
Operação de luz: Fernando Azambuja
Contrarregragem: Alex Peixoto
Fotos: João Caldas
Direção de Produção: Claudio Fontana
Câmbio, B.O.
Desde o "Crônica", tanta coisa aconteceu: balés israelenses e norte americanos, visita guiada pelo teatro municipal, contrarregragem pra Cia. dos Atores, iluminação de peça evangélica no Festival de Teatro de Angra etc. Foi assim meu segundo semestre, profissionalmente bastante frutífero.
Após a parceria que deu tão certo na "Crônica", fui chamado pra participar do trabalho seguinte do Gabriel Villela: a tragédia grega "Hécuba". Dessa vez, diferente do que aconteceu no trabalho anterior, tive a chance de participar do processo de criação junto à Miló Martins. Trabalhamos durante umas duas semanas no teatro Vivo, no Morumbi. Pudemos acompanhar o processo final de arremate da encenação.
Tivemos complicações durante o processo (como não poderia deixar de ser). Primeiro, o drama dos gobos, que, encomendados na Gobos do Brasil, passaram por um processo extremamente burocrático para que eu os recebesse. Mas nosso maior inimigo foi mesmo o próprio espaço. O teatro Vivo não oferece condições técnicas muito favoráveis. Com um pé direito baixo, há uma distância enorme entre a vara de proscênio e a primeira vara de dentro do palco. O equipamento é bastante limitado, sendo composto por alguns elipsoidais, algumas PAR (110V por acaso, obrigando o uso de séries), pouquíssimos fresnéis e PCs e alguns setlights.
A vara de proscênio não desce e as varas de dentro do palco são manuais por contrapeso. Todas as varas são paraleladas, gerando muitas confusões se não estiver atento à plugagem. Não há varas laterais, sendo usados, improvisadamente, alguns canos que passam na parte inferior da passarela técnica. A primeira medida da Miló foi alugar quase 80% do material utilizado na peça. Baseou boa parte de sua luz em fresnéis (utilizamos mais de 40) e, pensando no pouco espaço oferecido, Source Four PAR.
Houve um certo conflito sobre qual seria a cara dessa luz. Normalmente, pensamos em tragédias como obras soturnas e escuras, trazendo o peso da obra para a estética do espetáculo. Considerando que o peso da obra está em seu próprio caráter trágico e sabendo que o Gabriel gosta de muita luz e pouca sombra em seus atores (Miló já havia trabalhado com ele como assistente do Guilherme Bonfanti anos antes), investimos numa geral bem feita e fria, sendo usado o corretivo L201. Isso, para minha surpresa, ressaltou bastante o desenho do cenário e favoreceu o figurino colorido dos atores. Usamos poucas cores que surgem na forma do L354 e L166 e situações bem específicas. O console de luz utilizado foi uma ETC Express 24/48, onde produzimos um total de 42 cenas operadas em Cue.
Por fim, um dos maiores problemas mesmo que tivemos nesse trabalho, além do espaço físico, foi a relação com o pessoal técnico/administrativo do espaço. Composto por um pessoal, a meu ver, desqualificado e acomodado (com "síndrome de funcionário público"), tivemos sérios problemas ao longo de vários momentos da temporada.
Assim, ficamos de novembro ao início de fevereiro nesse teatro onde, apesar do difícil acesso, ingresso caro, falta de infraestrutura e um texto de tragédia grega que normalmente não é lá muito popular, tivemos uma temporada razoavelmente boa. Uma das coisas que me moveu a escrever essa postagem de hoje é o fato de que terminei hoje a primeira parte da turnê deste mesmo trabalho. Hécuba viaja agora por várias cidades e fizemos hoje nossa terceira e última apresentação no Teatro Alterosa em Belo Horizonte. Semana que vem, Recife (e quem acompanha esse blog sabe que tenho lembranças desse lugar...). E que venham os próximos.
Ficha Técnica
Elenco: Walderez de Barros, Flávio Tolezani, Fernando Neves, Leo Diniz, Luisa Renaux, Luiz Araújo, Rogério Romera, Nábia Vilela e Marcelo Boffat
Direção, Adaptação e Figurinos: Gabriel Villela
Texto: Eurípedes
Tradução: Mário da Gama Kury
Assistência de direção: César Augusto e Ivan Andrade
Cenografia: Márcio Vinícius
Adereços: Shicó do Mamulengo
Desenho de luz: Miló Martins
Preparação vocal: Babaya
Antropologia da voz: Francesca Della Monica
Direção musical e arranjos vocais: Ernani Maletta
Preparação corporal: Ricardo Rizzo
Operação de luz: Fernando Azambuja
Contrarregragem: Alex Peixoto
Fotos: João Caldas
Direção de Produção: Claudio Fontana
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