Trabalhar com aparelhos LEDs, moving lights e multiparâmetros em geral pode ser uma experiência muito bacana e certamente facilita uma série de situações, mas pode causar também um bocado de confusões se os profissionais envolvidos não estiverem preparados. Muitos espaços já apresentam esses aparelhos prontos no console para uso. Em outros, todo o preparo do patch terá que ser feito. De forma geral, deve-se seguir o princípio de que tudo aquilo que fazemos no patch do console é uma representação e deve estar em perfeita sincronia com o que foi montado e configurado no palco. Uma coisa é espelho da outra. Do contrário, problemas sérios de mal funcionamento podem ocorrer.
Apresento a seguir alguns conselhos de como realizar esse preparo para o trabalho com esses aparelhos.
A primeira coisa que devemos fazer de antemão é um inventário de quais aparelhos utilizaremos. Isso envolve saber marca, modelo e quantidade de cada tipo.
Segunda etapa, precisamos entender que modo de operação será utilizado em cada aparelho. É essencial lembrar que um mesmo aparelho pode ser configurado em diferentes modos de funcionamento e isso afeta tanto as funcionalidades que ele terá quanto a quantidade de endereços DMX que ele ocupará, afetando diretamente o patch. Alguns aparelhos possuem apenas um modo e esse ponto deixa de ser uma preocupação.
Um aparelho e seus diversos modos de operação no sistema Eos |
Como exemplo, vejamos o caso da ribalta led com tilt Robin CycFX 8 da marca Robe. O aparelho apresenta 7 modos de funcionamento. Sua contagem de endereços utilizados varia de 14 a 61. O que muda entre os modos é a possibilidade de trabalhar com os "pixels" individuais no aparelho. Quanto maior a granularidade, mais endereços o aparelho ocupará. Mas qual é o modo correto?
Isso é uma decisão que deve ser tomada a partir da relação entre o que a iluminadora precisa que esse aparelho ofereça em funcionalidade e a quantidade de endereços disponíveis no sistema utilizado. Muitas vezes, o artista vai querer utilizar o aparelho com a quantidade máxima de funções, mas isso ocupará tantos endereços que o sistema pode não comportar. Nesse caso, é necessário fazer conceções e estabelecer prioridades para se chegar a um meio termo. Devemos sempre lembrar que os consoles têm um limite máximo de endereços que eles podem manipular.
Para entender os modos de funcionamento, as quantidades de endereços utilizados e quais as funções oferecidas, as duas principais fontes de informação são o manual do aparelho e o próprio patch do console. Se possível, vale a pena fazer um patch de teste prévio para entender onde e como alocar os elementos. Assim, fica até mais fácil saber os endereços que devem ser aplicados a cada aparelho porque o console irá fazer a conta desses endereços.
Existe ainda a possibilidade de que a biblioteca do console não possua o aparelho em questão. Nesse caso, cada console terá um mecanismo distinto para a criação de personalidades ou importação dessas informações de outros shows. No caso da criação, novamente o manual e uma boa pesquisa na internet são as melhores referências.
Existem casos mais simples, geralmente quando se tem poucos aparelhos e efeitos e eles ocupam poucos endereços, de operar os respectivos aparelhos como se fossem dimmers. Nessa caso, cada canal que o console entende como um dimmer, em verdade, controla um parâmetro de algum aparelho. Essa mesma técnica pode ser utilizada para descobrir os parâmetros de determinado aparelho quando não se tem qualquer referência. Nesses casos, é preciso lembrar que aparelhos LED precisam ter seu parâmetro intensidade e alguma cor acionados para que se veja algo acender.
Funções da Coemar Parlite LED em seu manual |
De posse de todas essas informações, podemos realizar a montagem e configuração dos aparelhos com seus endereços e modos de operação. Vale destacar também que, a depender das características do espaço e de sua distribuição de sinal, podem haver variações nos universos de sinal que vão para cada dispositivo e, consequentemente, na forma como os cabos de sinal são passados. Para realizar essa parte, vale fazer um esquema mesmo que rascunhado de endereçamento:
Aqui é apresentado um esquema específico de patch em que cada tipo diferente de aparelho está com seus canais em uma casa de centena diferente. Isso é apenas uma de diversas tipologias de patch possíveis e depende muito da forma de trabalho de cada um, mas é relativamente comum.
Importante: usem terminadores de série!
Imagem da Suteer PropAudio |
Há ainda dois detalhes adicionais que valem atenção. Em aparelhos que utilizam lâmpada de descarga, geralmente há uma configuração que define o modo de acionamento da lâmpada, se isso se dará automaticamente quando o aparelho liga e termina o autoteste ou sob comando do console. O outro detalhe é em relação à luz do display de configuração que muitos aparelhos apresentam. Em muitos, é possível configurar para esse display apagar depois de certo tempo de inatividade, o que pode ser útil para não chamar atenção durante o espetáculo.
Feitos os preparos, checam-se os aparelhos. É importante passar todos os parâmetros dos aparelhos individualmente a fim de ter certeza de que tudo está funcionando corretamente. Muitas vezes, pode parecer que um aparelho está funcionando corretamente quando ele na verdade está com o mesmo endereço de outro e ele está simplesmente "imitando", situação que não pode ser percebida se os aparelhos forem chamados em grupo.
É possível também que determinados aparelhos apresentem problemas específicos em certos parâmetros. Por exemplo, pode ser que um aparelho LED de uma bateria esteja com uma das cores mais fraca do que os outros. Ou um moving light que está com problema na correia de um dos movimentos, afetando seu tilt ou pan.
Uma vez resolvidos todos os problemas, começam os preparativos no console para a gravação de cena propriamente dita. Isso envolve a gravação de grupos, palettes e presets dos diversos tipos além do estabelecimento de um home dos aparelhos que seja conveniente. Com isso, logo que começar a gravação de cenas do espetáculo, o programador terá um conjunto de ferramentas já pré-estabelecido. Esse momento ajuda também o programador a ganhar familiaridade com os diferentes dispositivos e o que cada um é capaz de oferecer não só individualmente, mas também no contexto do espaço.
Essas ações não significam que não haverá gravação desses elementos a posteriori, mas cria uma base sólida sobre a qual se começar a trabalhar.
Se, ao longo do dia, os aparelhos de lâmpada de descarga ficarão com lâmpadas acesas, porém ociosos, vale a pena deixá-los com o shutter aberto para que a energia luminosa tenha um pouco mais de vazão para fora do aparelho e não superaqueça o equipamento.
Vale lembrar também do processo de desligamento dos aparelhos. É importante dar o comando de Lamp Off das lâmpadas para que elas desliguem corretamente. Vale também esperar alguns minutos depois de efetivar o comando para que o sistema de resfriamento do aparelho possa resfriar a lâmpada. Caso o comando pareça não efetivar (as lâmpadas apagarem), deve-se esperar alguns segundos porque o comando às vezes demora esse tempo para ser efetivado (assim como o comando de Lamp On).