segunda-feira, 12 de março de 2012

Hécuba

Percebo hoje que recaí em meu velho problema: incapaz de lidar com processos de longo prazo, tenho dificuldades em apresentar coisas simples, sentindo sempre a necessidade de oferecer algo dito "completo". Daí meu extenso afastamento desse blog.

Desde o "Crônica", tanta coisa aconteceu: balés israelenses e norte americanos, visita guiada pelo teatro municipal, contrarregragem pra Cia. dos Atores, iluminação de peça evangélica no Festival de Teatro de Angra etc. Foi assim meu segundo semestre, profissionalmente bastante frutífero.

Após a parceria que deu tão certo na "Crônica", fui chamado pra participar do trabalho seguinte do Gabriel Villela: a tragédia grega "Hécuba". Dessa vez, diferente do que aconteceu no trabalho anterior, tive a chance de participar do processo de criação junto à Miló Martins. Trabalhamos durante umas duas semanas no teatro Vivo, no Morumbi. Pudemos acompanhar o processo final de arremate da encenação.

Tivemos complicações durante o processo (como não poderia deixar de ser). Primeiro, o drama dos gobos, que, encomendados na Gobos do Brasil, passaram por um processo extremamente burocrático para que eu os recebesse. Mas nosso maior inimigo foi mesmo o próprio espaço. O teatro Vivo não oferece condições técnicas muito favoráveis. Com um pé direito baixo, há uma distância enorme entre a vara de proscênio e a primeira vara de dentro do palco. O equipamento é bastante limitado, sendo composto por alguns elipsoidais, algumas PAR (110V por acaso, obrigando o uso de séries), pouquíssimos fresnéis e PCs e alguns setlights.

A vara de proscênio não desce e as varas de dentro do palco são manuais por contrapeso. Todas as varas são paraleladas, gerando muitas confusões se não estiver atento à plugagem. Não há varas laterais, sendo usados, improvisadamente, alguns canos que passam na parte inferior da passarela técnica. A primeira medida da Miló foi alugar quase 80% do material utilizado na peça. Baseou boa parte de sua luz em fresnéis (utilizamos mais de 40) e, pensando no pouco espaço oferecido, Source Four PAR.

Houve um certo conflito sobre qual seria a cara dessa luz. Normalmente, pensamos em tragédias como obras soturnas e escuras, trazendo o peso da obra para a estética do espetáculo. Considerando que o peso da obra está em seu próprio caráter trágico e sabendo que o Gabriel gosta de muita luz e pouca sombra em seus atores (Miló já havia trabalhado com ele como assistente do Guilherme Bonfanti anos antes), investimos numa geral bem feita e fria, sendo usado o corretivo L201. Isso, para minha surpresa, ressaltou bastante o desenho do cenário e favoreceu o figurino colorido dos atores. Usamos poucas cores que surgem na forma do L354 e L166 e situações bem específicas. O console de luz utilizado foi uma ETC Express 24/48, onde produzimos um total de 42 cenas operadas em Cue.

Por fim, um dos maiores problemas mesmo que tivemos nesse trabalho, além do espaço físico, foi a relação com o pessoal técnico/administrativo do espaço. Composto por um pessoal, a meu ver, desqualificado e acomodado (com "síndrome de funcionário público"), tivemos sérios problemas ao longo de vários momentos da temporada.

Assim, ficamos de novembro ao início de fevereiro nesse teatro onde, apesar do difícil acesso, ingresso caro, falta de infraestrutura e um texto de tragédia grega que normalmente não é lá muito popular, tivemos uma temporada razoavelmente boa. Uma das coisas que me moveu a escrever essa postagem de hoje é o fato de que terminei hoje a primeira parte da turnê deste mesmo trabalho. Hécuba viaja agora por várias cidades e fizemos hoje nossa terceira e última apresentação no Teatro Alterosa em Belo Horizonte. Semana que vem, Recife (e quem acompanha esse blog sabe que tenho lembranças desse lugar...). E que venham os próximos.





Ficha Técnica


Elenco: Walderez de Barros, Flávio Tolezani, Fernando Neves, Leo Diniz, Luisa Renaux,  Luiz Araújo, Rogério Romera, Nábia Vilela e Marcelo Boffat
Direção, Adaptação e Figurinos: Gabriel Villela
Texto: Eurípedes
Tradução: Mário da Gama Kury
Assistência de direção: César Augusto e Ivan Andrade
Cenografia: Márcio Vinícius
Adereços: Shicó do Mamulengo
Desenho de luz: Miló Martins
Preparação vocal: Babaya
Antropologia da voz: Francesca Della Monica
Direção musical e arranjos vocais: Ernani Maletta
Preparação corporal: Ricardo Rizzo
Operação de luz: Fernando Azambuja
Contrarregragem: Alex Peixoto
Fotos: João Caldas
Direção de Produção: Claudio Fontana


Câmbio, B.O.